domingo, 19 de outubro de 2008

A noiva

Finalmente, depois de algumas tentativas, ela conseguiu realizar seu sonho: o de se casar. Começaram os preparativos: lista de convidados, festa, vestido, essas coisas. Apesar da vida pacata, ela queria um vestido arrasador. O modelo foi ela mesma quem criou e a costureira endossou. De cetim branco, bordado, frente única, corpete apertado e da cintura para baixo rodado. Não deveria ter nenhuma costura na cintura.

Prova dali, prova daqui e o vestido nada de ficar adequado. Apertava de um lado, enrugava de outro e a noiva ia ficando nervosa. A esta altura os convites já estavam prontos. Ficaram lindos. Eram da mesma cor do bordado do vestido, um rosa cintilante, com os nomes dos noivos gravados em letras góticas: Indalécio Wanderley e Idslaine Mônica.

Finalmente se casaram. Foi tudo certo, igreja lotada, o acontecimento da cidade. Só o vestido que não ficou a contento da noiva, agora esposa. Mesmo com toda a pompa da festa, ela se sentiu humilhada, como se parte de sua felicidade tivesse sido aniquilada. Ela não teve dúvidas, processou a
costureira.

O juiz, um homem, que sempre comprava suas roupas prontas, que não entendia nada de costura, que nunca tinha pregado um botão na vida, viu-se obrigado a julgar tal causa. Não queria ser injusto. Chamou as testemunhas de ambas as partes e ouviu. Levou o processo para casa e perguntou para a esposa, que um dia fizera curso de costureira, como era esse negócio de frente única, bordado e saia rodada. Teve uma aula. Aprendeu o que era tubinho, prega, chuleio, arremate e tudo o que tornava pronta uma roupa.

Voltando ao tribunal, fez-se a sentença: era impossível um vestido de cetim, sem costura entre a parte de cima e a parte de baixo, bordado, não enrugar. Mas havia a costureira, que, afinal de contas, era profissional, e caberia a ela dizer à noiva se seria possível ou não a feitura daquele modelo. A noiva conseguiu o dinheiro de volta, mas o vestido deveria ficar com a costureira.

Meses depois, a noiva, passando em frente à loja da costureira, viu na vitrine seu vestido de noiva em um manequim. Ela olhou admirada tamanha era a beleza. Aproximou-se para ver de perto os detalhes, mais uma vez, do vestido que um dia fora seu. Notou no cantinho da vitrine, um escrito feito em letra-de-mão: Vende-se este vestido. Ela não acreditou, ficou inconformada. Chorou. Sentiu-se despedaçada. Entrou na loja, comprou o vestido sem negociar. E foram felizes para sempre.

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