domingo, 19 de outubro de 2008

Morre lentamente

Pablo Neruda

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não

ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem

não se deixa ajudar.



Morre lentamente quem se transforma em escravo do

hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos,

quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma

nova cor ou não conversa com quem não conhece.



Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o

negro sobre o branco e os pontos sobre os 'is' em

detrimento de um redemoinho de emoções justamente as

que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.



Morre lentamente quem não vira a mesa quando está

infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir

atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma

vez na vida fugir dos conselhos sensatos.



Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da

sua má sorte ou da chuva incessante.



Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de

iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que

desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.



Morre lentamente.....

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