segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Entre a vida e a morte

As pessoas normalmente têm uma morbidez que não é exatamente uma morbidez. É mais uma curiosidade. Quem nunca foi ao cemitério e ficou fazendo conta para saber com quantos anos morreu este ou aquele? Quem nunca ficou olhando aquelas fotos em túmulos para ver como era a cara daquele que foi ao encontro da paz eterna? E as inscrições, tão interessantes!

Não bastasse isso, o exercício é diário em casa, ao ler o jornal, o necrólogo. Os nomes antigos são imperdíveis: Otilla Helena, Clotilde, Irmã Estella. Puxa, as freiras também morrem! E assim vão. Uns jovens, outros velhos, algumas crianças. Todos impressionam. Diariamente eles estão por aí, para avisar que um dia será você, eu, nós, leitores.

Hoje achei uma pérola: Deusdede Nunes do Nascimento. Aos 83 anos, era solteiro. Deixa nove filhos. O enterro realizou-se no Cemitério Jardim Parque dos Ipês. O endereço é importante, porque se alguém quiser confirmar, pode ir lá, no horário normal de funcionamento de cemitério. O sr. Deusdede não vai sair.

Solteiro e nove filhos. Será de o sr. Deusdede teve estes nove filhos com a mesma mulher? Com várias, com nove? E manteve-se fiel à convicção de ser solteiro, como muitos e muitas. Bom, alguém gostava dele, pois colocou o anúncio de jornal. Será que foi um dos filhos, das amantes? Pode ter sido um irmão, uma irmã.

Outro dia eu fui ao enterro de minha tia avó. A Tia Zezé. Morreu aos 102 anos e 11 meses. Provavelmente esta notícia também chamou a atenção de alguém, assim como a do sr. Deusdede atraiu a minha. Minha tia era viúva, como era de se esperar. Velhinha, cabelinho branco, mas no seu aniversário de 100 anos pediu uma bela feijoada, completa, para comemorar. A família toda esteve presente. Ela reconheceu a todos. Lúcida. Discutia até essa pouca-vergonha do Sarney, brigava porque a novela era uma porcaria. Morreu de velhice, não de doença.

Um dia meu nome também estará lá. Patricia Gibin Villela Cytrynowicz. Será que estarei inscrita no livro da vida e não só na lápide gelada? Quem fará a conta por mim? Será que terei alguma curiosidade para chamar a atenção. Vai saber. Bom, como dizia meu sogro na hora do brinde, até 120!

Um comentário:

Edson Cruz disse...

bacana, Pat.
bom exercício esse: cada um de nós providenciarmos nosso epitáfio. q tal? depois vamos postando no twitter ou no blogue. quem topa?

edson cruz